Saudades da dercy - quando falavam que ela ia enterrar todo mundo respondia "eu não vou enterrar ninguém porque eu não sou coveira, eu vou é mijar no seu túmulo". (L)
Mas tendo "acabado" ou não, cabe dizer que a lôca marcou muito os últimos 4 anos da minha vida e por isso já lhe sou grato. E por isso vale entrar pelo túúúúnel do tempo (/videoshow) e relembrar os primórdios desse lugar, que para quem não sabe é muito antigo mesmo. Dizem que léia bastos inspirou oscar wilde a escrever "o retrato de dorian gray" e que o palquinho foi inaugurado por uma performance ba-ba-do de josephine baker. Dizem.
Pelo menos tenho certeza que alguns amigos conhecem lá dustempus que entrada era cinco
Minha primeira memória é de circa 2000, quando eu e minha prima estávamos entrando passo a passo no mundo dos vapores noturnos, mas de forma muito segura - matinês HT. Armários ainda eram uma realidade para nossas existências da adolescência.
Krypton já era história, Club K já estava cansando - what's up with the K, bitches? - e o novo Matrix tava decepcionando. Eis que ela lê na capricho que na frei caneca tinha uma balade de domingo superlegal. Sim, na capricho. Um brinde a pessoa que escreveu a matéria. Targeted audience FAIL.
- Vamos variar nossas matinês de domingo, 'j'?
- Vamos.
Entramos no carro com a minha tia, e o carro de uma outra bróder na frente. Minha tia começou a demonstrar sinais de ansiedade - mas perae, é nessa região? É do lado centro? É nesse buraco com um cartaz na porta? Paramos o carro e o pai da outra menina foi checar o lugar. Voltou chocado - "tem um TRAVESTI na porta recebendo as pessoas. Um TRAVESTI". Protestamos mas tivemos que ir embora pro club k mesmo. Desde esse dia, toda vez que vamos na augusta essa minha tia fala - aquele lugar é boca. Aquele lugar é bo-ca.
Reclamei e reclamei mas lá no fundo eu tava morrendo de medo de entrar na lôca e fiquei feliz pela proibição (meique a mesma sensação de quando quis fazer um piercing e meus pais não deixaram). Na minha cabeça ia ser um lugar lotado de travecos, gente lôca berrando, povo cheirando e injetando heroína descaradamente. Not too far from the truth, actually. Lôca, fui eu que mudei, não foi você.
Naquela época eu jamais imaginaria que alguns anos depois lá estaria eu com meu primeiro namorado, pirando porque meu, toca strokes na balada, que foda. Todo um mundo indie se abria à minha frente. Lembro bem também de uma funcionária comentando que ela era a única daquele lugar que não cheirava. Corta pra alguns meses atrás, ela comentando que tava precisando de um padê. Tão clichê esse 'arco da personagem'.
E corta pra anos depois eu com aquela mesma prima, dois homossexuais esclarecidos, bebendo oceanos e beijando jeovás. E quem diria que aquele amigo bonitinho dela - de cachecol na lôca: estilo ou o ar condicionado ainda funcionava na época? - seria amigo de todos os meus futuros amigos e teria um futuro caso com meu futuro ex-namorado. São tantas fases, tantos altos e baixos, que não acho certo decretar o fim de uma balada assim.
Mesmo louca, a vida é um eterno aprendizado, Amaury.
Um beijo pra lôca, pra tudo que ela me deu e pra todo o dinheiro, dignidade, saúde e vergonha que de mim ela tirou. You had it coming.
3 comentários:
SAU-DA-DES!
pronto, falei.
trabalha o desapego
quase chorei.
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